O trabalho e o cuidado não
remunerado ou mal pago realizado pela mulher está contabilizado na crise global
da desigualdade, segundo a OXFAM BRASIL, “mulheres e meninas
ao redor do mundo dedicam 12,5 bilhões de horas, todos os dias, ao trabalho de
cuidado não remunerado – uma contribuição de pelo menos US$ 10,8 trilhões por
ano à economia global – mais de três vezes o valor da indústria de tecnologia
do mundo; e 90% do trabalho de cuidado no Brasil é feito informalmente
pelas famílias – e desses 90%, quase 85% é feito por mulheres.”
No Brasil, as mulheres dedicam até 25 horas por
semana para fazerem tarefas domésticas e cuidados, enquanto os homens dedicam
cerca de 11 horas, de acordo com um estudo realizado pela FGV. Diante desse
quadro, essas mulheres não conseguem se dedicar para outras áreas, ficando
isoladas e completamente dependentes emocionalmente e financeiramente dos
maridos.
Outro dado importante é a diferença salarial
entre homens e mulheres, onde o rendimento das mulheres representa, em média,
77,7% do rendimento dos homens (R$ 1.985 frente a R$ 2.555) e o desemprego
também as afeta mais, uma vez que a taxa de desocupação entre as mulheres é de
14,1%, enquanto a dos homens é 9,6%. Taxas essas acentuadas pela violência
física e psicológica familiar, não importando a classe social, colaborando
ainda mais, na desigualdade de gênero.
Esse trabalho do cuidado, muitas vezes, é não
remunerado. E mesmo quando é remunerado, é mal remunerado, sendo totalmente
desvalorizado. Profissões ligadas ao cuidado doméstico ou de outras pessoas,
como faxineiras, babás, assistentes de técnicos de enfermagem, cuidadoras de
pessoas com alguma deficiência, idosos e crianças, compõem a base da pirâmide
de renda doméstica. E são as mulheres, sobretudo mulheres negras, a maioria
nessas profissões.
Portanto, é preciso olhar para quem é cuidado,
como bebês, crianças, pessoas com deficiência e idosos, mas também para quem
cuida. Como a gente cuida de quem cuida? Como a gente valoriza esse trabalho?
Como a gente remunera isso?
Não existe uma sociedade sem cuidado. O cuidado
também é um direito. A mulher muitas vezes abdica de sua profissão para cuidar
dos filhos menores, sogros(as), parentes acamados e não recebe nenhuma
contraprestação, e quando termina o relacionamento, ainda precisa combater as
famigeradas frases abusivas: “Você nunca fez nada”, “Você nunca contribuiu
financeiramente”, “Qual é o seu direito?”.
Nos últimos dez anos, o Brasil teve um aumento de
57% na população idosa. Se formos pensar nesse público-alvo, já estamos falando
de 30% da população que precisa de cuidado. São números muito expressivos. Com
o número de jovens encolhendo, o problema só tende a se agravar ainda mais.
Mulheres talentosas,sonhadoras, mas indisponíveis
para alavancarem devido a necessidade (não opcional) do trabalho de cuidado.
Mulheres que não são acolhidas, não são valorizadas e sabem que seu trabalho é
fundamental. Para que o homem possa crescer e gerar riqueza precisou ter ao seu
lado uma mulher que abdicasse de tudo para evoluir economicamente.
A atividade de cuidado precisa ser reconhecida,
bem remunerada, isso abriria portas para as mulheres alcançarem seus sonhos e
alcançarem melhores posições no mercado de trabalho.
Quando a mulher ganha dinheiro ela investe na
família e na comunidade. Todos crescem.
Juliane Silvestri Beltrame
Advogada especialista em
direito das famílias e escritora
Publicidade
Sua mãe com mais auto estima