São tolerantes aos herbicidas glifosato
e dicamba e, em testes de campo, tiveram potencial produtivo de cinco mil
quilos por hectare
A Embrapa, em parceria com a Fundação
Meridional, está lançando as primeiras cultivares de soja com a tecnologia
Xtend® (XTD). Por serem tolerantes aos herbicidas glifosato e dicamba, as
cultivares BRS 2553XTD e BRS 2558XTD são opções de refúgio para a tecnologia
Intacta 2Xtend® (I2X); e esta, além da tolerância aos herbicidas, agrega a
resistência às principais lagartas da soja. A Embrapa considera o uso das
cultivares Xtend® uma medida preventiva para evitar a resistência das lagartas
às cultivares Intacta 2Xtend® e, assim, prolongar a vida útil dessa tecnologia.
Conheça as cultivares
A BRS 2553XTD é uma cultivar que poderá
ser usada nas áreas de refúgio para cultivares com a tecnologia I2X. Possui
alta performance produtiva, associada à precocidade (grupo de maturidade 5.3).
“É a cultivar mais precoce do portifólio da Embrapa e, como associa precocidade
com boa ramificação, é capaz de produzir mais vagens garantindo excelente
produtividade. A arquitetura das plantas também é um ponto alto porque favorece
a aplicação e penetração de produtos químicos”, diz o pesquisador Carlos Lásaro
Pereira de Melo.
Soja Embrapa Xtend
Ela é indicada para a região (REC 102)
do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina, especialmente com altitude
superior a 700 metros. “Nestas regiões seu potencial produtivo é incrementado,
podendo ser superior aos cinco mil quilos por hectare (83,3 sacas), o que
supera os diferentes padrões de mercado com que foi comparada”, ressalta.
Outra característica relevante da BRS
2553XTD é a resistência à podridão radicular de Phytophthora, doença causada
por um patógeno de solo que vem trazendo elevados prejuízos econômicos para as
lavouras infectadas. É também resistente ao cancro da haste, à mancha olho de
rã e ao mosaico comum da soja, moderadamente resistente ao oídio e tolerante ao
vírus da necrose da haste.
Já a BRS 2558XTD também poderá ser usada
nas áreas de refúgio para cultivares com a tecnologia I2X. A cultivar é precoce
(grupo de maturidade 5.8), indicada inicialmente para uma região (REC 103) dos
estados do Rio Grande do Sul e Paraná. Devido ao ciclo da cultivar, este lançamento
é indicado para aqueles que querem fazer antecipação da semeadura, porque pode
ser semeada a partir de setembro, logo após o vazio sanitário. “É uma ótima
opção de cultivar precoce, por estar adaptada à antecipação de semeadura,
permitindo encaixe em sistemas de sucessão/rotação de culturas, como feijão ou
milho safrinha”, destaca Melo.
Segundo o pesquisador, outro ponto alto
da cultivar é o excelente potencial produtivo, associado à ótima capacidade de
ramificação das plantas, superando em produtividade as cultivares mais
produtivas e plantadas do mercado, na região indicada. “Nos testes de
avaliação, a BRS 2558XTD apresentou potencial médio acima de 5 mil quilos por
hectare, o que é bastante relevante quando comparado com outras cultivares”,
ressalta.
De acordo com ele, a cultivar destaca-se
pela boa sanidade, especialmente a resistência à podridão radicular de
Phytophthora. “Essa característica agrega maior estabilidade, caso a doença se
manifeste, porque as plantas não são afetadas, ao contrário das cultivares
suscetíveis”, afirma. É resistente ainda ao cancro da haste, ao mosaico comum
da soja e moderadamente resistente à mancha olho de rã.
A BRS 2558XTD tem teor médio de proteína
em torno de 40%, enquanto a média nacional é de 36%. Portanto, traz ganho bem
expressivo para a agroindústria produtora de ração animal.
Outras cultivares estão por vir
O gerente executivo da Fundação
Meridional, Ralf Udo Dengler, destaca que ao longo de 22 anos de parceria com a
Embrapa, foi desenvolvido pela entidade um grande portfólio de cultivares nas
diferentes plataformas de melhoramento genético de soja.
“As cultivares com tecnologia Xtend®,
BRS 2553XTD e BRS 2558XTD, já estão com campos inscritos na safra 21/22 e
deveremos ampliar a oferta para a próxima safra, quando também deveremos lançar
outras cultivares XTD, bem como as primeiras cultivares com tecnologia Intacta
2 Xtend®”, destaca.
Proteção ampliada contra lagartas
A soja Intacta 2 Xtend® reúne três
proteínas (Cry1A.105, Cry2Ab2 e Cry1Ac), o que proporciona proteção contra seis
espécies de lagartas que incidem na cultura da soja: Helicoverpa armigera,
Spodoptera cosmioides, lagarta falsa medideira (Chrysodeixis includens),
lagarta da soja (Anticarsia gemmatalis), lagarta das maças (Chloridea
virescens) e broca das axilas (Crocidosema aporema).
lagarta soja
“A piramidação de três proteínas nesta
tecnologia reduz a probabilidade de quebra da resistência”, explica o
pesquisador da Embrapa Soja, Daniel Sosa Gomez. “Porém, um aspecto fundamental
para evitar a seleção de populações de lagartas resistentes nas lavouras com
esta tecnologia é o plantio de áreas de refúgio estruturado”, completa.
A recomendação atual de refúgio para a
cultura da soja é, no mínimo, 20% da área com tecnologia diferente da Intacta
2Xtend®. Segundo o pesquisador, esta é uma medida preventiva que consiste no
plantio de parte da lavoura com a tecnologia Xtend® – ou outras opções de soja
não-Bt (sem a toxina Bacillus thuringiensis) – a uma distância máxima de 800
metros de lavouras com a tecnologia Intacta 2Xtend®.
“A adoção da área de refúgio possibilita
o acasalamento aleatório de mariposas oriundas das áreas com a tecnologia
Intacta 2 Xtend® e das áreas de refúgio, favorecendo a manutenção de populações
suscetíveis e retardando a seleção de populações resistentes”, diz.
A Embrapa defende ainda que o manejo de
pragas nas lavouras com a tecnologia Intacta 2 Xtend® siga as mesmas premissas
do Manejo Integrado de Pragas (MIP), como o monitoramento e o controle no
momento em que as pragas atingem o nível de ação, além de priorizar o uso de
inseticidas mais seletivos.
Manejo de plantas daninhas e
aplicação do dicamba
As cultivares de soja com tecnologia
Intacta 2 Xtend® e tecnologia Xtend® são tolerantes aos herbicidas glifosato e
dicamba, cuja molécula apresenta eficiência no manejo de plantas daninhas de
folhas largas, como a buva, o caruru, a corda-de-viola, o picão-preto, dentre
outras. “A associação do dicamba ao glifosato é mais uma alternativa disponível
no mercado para a solução de problemas com as plantas infestantes, porém, é
preciso usar corretamente os produtos”, ressalta o pesquisador da Embrapa Soja,
Dionísio Gazziero.
“O dicamba é um herbicida recomendado
para aplicação no pré-plantio da soja. É fundamental que sejam seguidas as
informações contidas na bula, pois o uso em desacordo com as orientações
técnicas pode ocasionar injúrias em culturas não-alvo da aplicação do
herbicida”, conclui.
Na avaliação do pesquisador, o agricultor deve estar atento quanto ao aparecimento ou disseminação de plantas daninhas resistentes. Além disso, lembra que a integração entre práticas de manejo envolve não só o controle químico, mas também a rotação dos mecanismos de ação dos herbicidas, a rotação de culturas – pelo menos na entressafra da soja – o uso de espécies para produzir uma boa palhada, a limpeza de máquinas e implementos agrícolas, o uso de sementes de qualidade e livres de infestantes resistentes para evitar a reprodução dessas espécies.
Fonte: Canal Rural