Híbrido “gigante” ultrapassa 4 m de altura e pode produzir
até 80 t/ha, mas teste antes de plantar.
Plínio Borges Assis e sua esposa, Alessandra Costa Rodrigo
Borges, são novos, tanto na idade (29 e 27 anos, respectivamente), quanto na
pecuária de corte. Há menos de dois anos, eles arrendaram uma propriedade – a
Fazenda Santa Maria, de 600 hectares, em Itarumã, no sul de Goiás –, onde
produzem bezerros Nelore e meio-sangue Aberdeen Angus.
Em 2017, ouviram falar da chegada ao Brasil de um sorgo
forrageiro “gigante”, capaz de atingir entre 4 e 5 m de altura e que prometia
ótimo rendimento, tanto na produção de silagem quanto no fornecimento direto,
picado após seu corte. “Aqui na região, os técnicos sempre dizem não haver
sorgo que produza mais silagem do que o milho. A produtividade das variedades
usadas por aqui giram entre 20 e 30 t/ha. Agora, chega uma planta que promete
até 80 t. É totalmente fora de nossa realidade!”, exclama Assis.
Ele obteve mais detalhes da novidade pelo consultor Antônio
Machado, proprietário de uma empresa de assistência técnica sediada em Formosa,
cidade goiana distante 70 km de Brasília. No início, Assis não botou fé. “A
gente fica com medo de apostar. Dá uma angústia danada”, diz. Em setembro de
2017, ele pôde conferir o tamanho do sorgo em um vídeo que lhe foi enviado pelo
consultor via whatsapp. Ainda assim duvidou. “Será que é isso tudo mesmo?”,
questionava. Entretanto, os meses de chuva se aproximavam e havia pouco tempo
para providenciar toda a comida necessária ao atendimento do rebanho na seca,
que naquela região tem seu pico entre julho e outubro. São pelo menos 300 vacas
para alimentar, além dos bezerros de recria. Assis decidiu apostar. Comprou
sementes e começou a plantar o “sorgão” em novembro. Para isso, reservou 60
hectares: 40 na fazenda Santa Maria e 20 na Fazenda Primavera, de 220 ha, que
ele e sua esposa arrendam há quatro anos e onde mantêm um rebanho de leite,
também em Itarumã.
Já no mês de janeiro o tamanho das plantas surpreendia.
Muitas já superavam os quatro metros. Quando, em fevereiro, o próprio Assis
levou sua colhedora a campo para iniciar o corte, viu que a produção de massa
verde seria alta. Não deu outra. A colheita finalizou com uma média de 70 t/ha.
Somente para a pecuária de corte, o material ensilado forneceu 2.800 t. “É mais
do que necessito. Pretendo vender o excedente e fazer caixa para a próxima
safra”, projeta. Assis separou uma pequena amostra do sorgo picado, não
ensilado, para servir no cocho após o corte, com o objetivo de avaliar sua
aceitação pelos animais. “Foi aprovado”, garantiu. A silagem será fornecida às
matrizes e à bezerrada com mais de três meses.
Após o corte da forrageira, Assis semeou braquiária
(cultivar Marandu) na área, para obter uma pastagem de inverno consorciada
(capim mais a rebrota do sorgo). Sua ideia é somente fornecer silagem no cocho
quando esse pasto tiver sido totalmente consumido. Espera concentrar o trato
entre os meses de setembro e dezembro, por motivos estratégicos: garantir a
total recuperação das pastagens de verão, antes de franqueá-las ao gado. “Se as
chuvas começarem com as vacas já no pasto, estas vão comer a rebrota do capim.
Com disponibilidade de silagem, faço o sequestro do plantel, fecho ele no cocho
e espero o pasto sair totalmente antes de retornar com os animais”. Na fazenda
de leite, Assis pretendia fazer a colheita da rebrota do sorgo nos 20 ha
cultivados entre fins de abril e início de maio. “Minha estimativa é obter de
20 a 25 t/ha neste segundo corte”, calcula.
Origem boliviana
Para adquirir as sementes, Assis teve de ir pessoalmente a
Leme, cidade no leste do Estado de São Paulo, onde fica a central brasileira de
distribuição de sementes de milho e sorgo da Agricomseeds, multinacional de
origem boliviana, sediada em Santa Cruz de La Sierra, que nos últimos dois anos
começou a importar esse material genético (variedades híbridas, não
transgênicas) para cultivo comercial. Além do Brasil, o “sorgão” ou “sorgo
gigante” já é cultivado em fazendas da Bolívia, Paraguai e Argentina. Está em
processo de registro no Peru, Colômbia, Equador e alguns países da América
Central. A empresa afirma que, em áreas cultivadas entre setembro e janeiro
(período mais chuvoso), a produtividade da cultivar tem variado entre 80 e 120
t/ha em apenas um corte, feito entre 85 e 115 dias após o plantio, rendimento
bem superior ao obtido por Assis em Goiás.
O sorgo “gigante” foi batizado com o nome Agri 002E. A
Agricomseeds garante que algumas plantas já chegaram a atingir 6,2 m de altura
no Brasil. Assim como o pecuarista de Itarumã, outros pelo País foram fisgados
por seu impacto visual. A empresa reservou 8.000 kg de sementes (400 sacas de
20 kg) para o mercado brasileiro, destinadas ao plantio da safra 2017/2018,
quantidade suficiente para o cultivo de aproximadamente 1.600 ha, segundo
revela William Sawa, gerente comercial da empresa no Brasil. Além do plantio
solteiro, o sorgo vem sendo utilizado por alguns produtores em consórcio com
milho, também visando ensilagem. A Agricomseeds pretende ofertar quantidade
suficiente de sementes para o plantio inicial de 80.000 a 100.000 ha de “sorgo
gigante” no País.¨
Produtividade
Antônio Machado, zootecnista que apresentou o sorgo a Assis,
garante que nunca viu uma variedade com crescimento tão forte. “Trabalho com
nutrição animal há 20 anos e jamais conheci algo semelhante”, confessa. Além da
grande produção de massa verde, outra vantagem da planta, segundo ele, é sua
alta resistência aos chamados veranicos, períodos sem chuva em plena estação
das águas, fenômeno muito comum no Brasil Central. Machado comprovou isso no
nordeste de Goiás, onde frequentemente ocorrem veranicos de até 25 dias e a
seca chega a durar sete meses. “Conheci este sorgo há quase dois anos, quando a
empresa me enviou cinco quilos de sementes em um saquinho.
Testei em terras entre os municípios de Flores de Goiás e
Iaciara. Ele passou por estresse hídrico, suportou o baque e produziu bem. Nas
condições da região, sua produtividade foi de 28 t/ ha, uma maravilha para um
lugar onde nenhum outro sorgo ou milho vingava”, conta.Na região onde Plínio
Assis arrendou terras, onde o regime de chuvas é melhor distribuído e a seca
menos intensa, Machado acredita que a silagem de “sorgão” vai minimizar o
impacto da estiagem e melhorar os índices reprodutivos do rebanho. “As vacas
vão entrar na estação de monta com um escore corporal bem mais adequado”,
prevê. Assis começou, neste ano, a fazer inseminação artificial em tempo fixo
(IATF) na vacada Nelore, usando sêmen de Angus e concentrando a estação de
monta entre os meses de janeiro e março. “No meu primeiro ano de pecuária,
trabalhei com monta natural e mal consegui produzir 200 bezerros, entre machos
e fêmeas, além disso com peso baixo (cerca de 160 kg). Minha expectativa, já
neste ano, é chegar a 300 bezerros, entre animais Nelore com peso de 190 a 200
kg, e cruzados, variando entre 280 e 300 kg na desmama”, projeta.
Fonte: AgroNews